As árvores da espécie Commiphora myrrha pertencem à família das Burceracaes (ordem de Sapindales), a mesma da Boswellia (incenso). Ambas as árvores produzem resinas aromáticas, conhecidas como mirra e como franquincenso bíblico (olíbano), respectivamente.
Esta espécie é natural da região da Eritreia, Etiópia e sul da Península Arábica (atual Iêmen e Omã, principalmente em solo calcário e calor intenso, de onde se difundiram para o Oriente.
As resinas eram transportadas por camelo através de uma rota deserta de 3000-4000 quilômetros. Cerca de 300 antes de Cristo, mais de 3000 toneladas por ano foram exportadas, principalmente para o Egito, Síria, Palestina, Grécia e o Império Romano.
Mirra significa amargo, deriva da palavra árabe mur. Ela foi usada em funerais para homenagear os mortos[i], para ungir reis e profetas[ii], para embalsamar, em remédios e perfumes. A colheita das resinas é feita cortando cuidadosamente a casca, onde gotas aparecem lentamente na forma de lágrimas.
Matéria Medica de Dioscórides (Livro I - Capítulo LXIII):
“A Mirra é um líquido de uma árvore que nasce na Arábia, semelhante a espina egípcia[iii], este líquido escorre de incisões que se fazem na árvore e outras se congelam ao redor do tronco. Acha-se uma espécie de mirra muito grassa, chamada Pediasimos, da qual espremida sai a dita stacte[iv]. Há outra também grassíssima que tem Gabirea por nome, a qual nasce em lugares inóspitos edá de si também grande quantidade de stacte. Tem o principado de todas as Troglodyctica, chamada assim da terra que a produz[v]. Esta é algo tanto verde, translúcida e picante ao gosto. Colhe-se também outra pequena, segunda em perfeição, depois da Troglodyctica, a qual, como o bdélio[vi] é macia, porem exala um odor algo grave e nascem em lugares ensolarados. Outra se chama Caucalis e é murcha, negra e como tostada. A pior de todas é a que se diz Ergasima, toda cheira de sujeiras e sem oleosidade, porém ao gosto é aguda e semelhante a goma em seu parecer e forças. Repete-se a chamada Amínea, espreme-se líquor de todas, porém oleosos e odoríficos dos óleos. Das secas, magras e sem odor; das pastilhas dos quais por força foram muito frágeis se ao formá-las não se mesclar algum azeite. Falsifica-se a mirra misturando goma banhada na água de sua infusão. Deve-se escolher a fresca, a que se desfaz facilmente, a que é leve, a que por todas as partes é da mesma cor, a que se rompendo mostra certas estrias brancas e lisas, como unhas; a que se desfaz em grãos pequenos; a que é amarga, olorosa e picante ao gosto e jovens. Tem-se por inúteis as graves e de cor de pez[vii]. A mirra aquece, provoca sonhos, liga, seca, adstringe, amolece a matriz, desopila e atrai facilmente a purgation menstrua [viii] e o parto, posta dentro da natura com axenxios [ix], e com a infusão de tremoço[x] ou com o sumo de arruda [xi]. Toma-se tanto quanto um grão de fava contra tosse antiga, contra asma, contra dor nas costas e no peito e contra os fluxos do ventre, em especial a disenteria. Além disso, bebida na quantidade de um grão de fava, com água e pimenta, duas horas antes que acuda a quentura, acalma os tremores paroxísticos.Colocada debaixo da língua, até que se desfaça, corrige as asperezas das canas dos pulmões; e com voz rouca a faz clara. Mata os vermes do ventre. Masca-se contra o mal hálito. Aplica-se com alume [xii] líquido contra a sovaqueira; dissolvida em vinho e azeite trazida à boca, estabiliza os dentes e gengivas; posta em forma de emplasto fecha as feridas na cabeça; aplicada com carne de caracóis sana as contusões dos ouvidos e “veste” os ossos desnudos; instilada com mecônio [xiii], gláucio [xiv] e castóreo [xv] cura os inflamados do ouvido e dos que emanam matéria. Aplica-se com mel e canela para extirpar as manchas do rosto. Batida com vinagre e posta sobre qualquer peito o modifica. Dissolvida em vinho a azeite de murta [xvi] e láudano [xvii] fortalece os cabelos contra a queda. Mitiga os catarros antigos, quando aplicada com uma pluma dentro das narinas. Preenche as chagas que podem surgir nos olhos; retira as nuvens e as cataratas e reduzem as asperezas que se formam neles. Faz-se da mirra, assim como o incenso (olíbano), uma certa fuligem proveitosa para as mesmas coisas, como mais na frente falaremos...”
Homeopatia[xviii]:
O Olibanum e a Mirra são medicações semelhantes, são pessoas que alegremente ajudam os outros, mas têm dificuldades em receber. Sensíveis e ainda fortes, são empreendedores. Sua qualidade mais importante é a sensibilidade aos outros; eles podem sentir com precisão o que está acontecendo com o outro. O problema, no entanto, é que eles tendem a perder contato consigo mesmos. O efeito de cura de ambos os remédios (além de outras qualidades de cura), é que a conexão com os próprios pensamentos e desejos se torna mais desenvolvida com o efeito de que não se está respondendo apenas às necessidades dos outros. Eles são intermediários, mantenedores da paz e buscam a harmonia.
Eles têm um grande sentimento de responsabilidade e querem fazer tudo com perfeição. Eles têm padrões tão altos que quase precisam ser santos para cumpri-los, mas não estão cientes disso, pois têm a sensação de que nada do que fazem é bom o suficiente. Eles são ambiciosos no sentido de que estão tentando provar que são bons. Por baixo disso, no entanto, existe um enorme sentimento de culpa, que eles tentam evitar sentir o máximo que podem.
O tema central é: separação e morte. Em algum momento eles experimentaram muita dor e eles colocaram essa dor de lado. Sua doação sem fim é uma tentativa de evitar sentir essa dor. A morte pode ser um tema na família atual ou um tema nos antepassados.
As pessoas de Myrrha têm a tendência de se retirar. Eles têm mais contato com o escuro, com sua sombra, mas tentam evitá-lo "fazendo o bem", pois para eles a sombra está ligada ao pânico; o pânico de ser condenado, de traição não declarada, especialmente traição pelo grupo (incluindo a família), em quem eles deveriam confiar; "Tudo deve ser bom". É o tema de Judas. Judas como o traidor, ou como o iluminado? É especialmente no contexto do grupo que eles têm dificuldades em permanecer fiéis a si mesmos e têm a tendência de desistir.
“Não deve estar escuro”. Em Myrrha, a escuridão é palpável. O tema de Myrrha é frequentemente ligado à violência: violência de guerra, suicídio, acidentes, afogamento. Lágrimas amargas de tristeza não resolvida. A raiva reprimida está mais claramente presente em Myrrha do que em Olibanum. É o tema da culpa bíblica, tentando "fazer o bem", como descrito na Bíblia, em um nível quase sagrado. Myrrha se adapta às pessoas que verdadeiramente e honestamente tentam viver no puro espírito da Bíblia. Eles não são pessoas que são religiosas para a forma e que estão necessariamente ligadas a uma igreja particular. Eles normalmente vêm de uma família onde um ou mais dos pais tem sido muito rigoroso, e eles se tornaram muito rigorosos para si mesmos.
Coletivo
Olibanum e Myrrha são possivelmente remédios coletivos para os temas bíblicos / religiosos acima mencionados: santidade, culpa e morte.
Palavras-chave de Burseaceae:
Santidade, sentimentos puros e culpados, responsabilidade, morte, separação, sensibilidade à atmosfera, traição, escuridão, esgotamento, clarividência.
Categorias:
Palavras-chave: sofrimento, culpa, morte, violência, traição, santidade, bem, separação,
Aromaterapia:
Anti-inflamatório, antisséptico e expectorante.
Medicina Chinesa:
Mò Yào 沒藥 – Ervas que regulam o sangue (revigora o sangue)
Sabor amargo, temperatura neutra, atua nos meridianos Coração, Fígado e Baço.
Cuidados: Contraindicado na gestação e em casos de estagnação; Contra-indicado para aqueles com sangramento uterino excessivo; com perda lóquios no pós-parto; com dor abdominal devido à Deficiência.
Usar com cuidado em pacientes com estômago fraco.
Não use a longo prazo.
Quando combinado com o Olíbano, baixe a dosagem.
[i] "38 Depois disto, José de Arimateia (o que era discípulo de Jesus, mas oculto, por medo dos judeus) rogou a Pilatos que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. E Pilatos lho permitiu. Então foi e tirou o corpo de Jesus.
39 E foi também Nicodemos (aquele que anteriormente se dirigira de noite a Jesus), levando quase cem arráteis de um composto de mirra e aloés". Evangelho de João 19:38,39
[ii] Junte as seguintes especiarias: quinhentos ciclos de mirra líquida, a metade disso de canela e duzentos e cinquenta ciclos de cálamo aromático.
Quinhentos ciclos de cássia, com base no peso padrão do santuário, e um him de azeite de oliva.
Faça com eles o óleo sagrado para as unções, uma mistura de aromas, obra de perfumista. Este será o óleo sagrado para as unções. Êxodo 30:23-25
[iii] Vachellia nilótica (sinonímia: Acacia nilótica, Acacia arabica, Mimosa arábica), arvore da goma arábica.
[iv] Do grego Stacte (στακτή staktē) ou nataph (Hebreu: נָטָף nataf) são os nomes usados para o incenso do Templo de Salomão.
[v] Referência as habitações dos povos do deserto.
[vi] Bdélio goma de árvores da mesma família da mirra e usada para falsifica-la.
[vii] Substância resinosa do pinheiro e de outras árvores pináceas. Substância betuminosa, sólida ou semi-sólida, natural ou artificial, resíduo da destilação de líquidos densos; alcatrão; breu; piche
[viii] Menstruação.
[ix] Ajenjo no espanhol atual refere-se a três espécies de Artemisia: A. absinthium,; A. pontica e A. marina.
[x] Lupinus albus.
[xi] Ruta graveolens.
[xii] Sulfato de alumínio e de Potássio; pedra ume.
[xiii] Além de definir as primeiras fezes dos bebês mamíferos, também significa o sumo de algumas papoulas (ópio).
[xiv] Nome comum de algumas espécies do gênero Glaucium.
[xv] Castóreo é uma secreção oleosa glandular do Castor fiber (castor europeu) ou da espécie americana C. canadensis.
[xvi] Mirtus communis
[xvii] Mistura derivada do ópio.
[xviii] Stallinga, Enna. Myrrha, the precious gift for the softening of suffering; four cases. International Homeopathic Iinternet Journal, April, 2010. Disponível em: http://www.interhomeopathy.org/myrrha-the-precious-gift-for-the-softening-of-suffering
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