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  • Patrícia Oliveira

O Natal e os presentes de Jesus – Parte I

Atualizado: 11 de dez. de 2018

Final de ano, preparação para um novo período que vai se iniciar e uma das festas mais importantes do calendário Cristão: o Natal.

Filho de um humilde carpinteiro, recém-nascido em um estábulo, recebeu a visita de 3 Reis Magos, que lhe trouxeram ouro, incenso e mirra.


Adoração dos Reis Magos de Botticelli

No blog do Padre Paulo Ricardo [1], comentando os significados dos presentes dados a Jesus ele transcreve as palavras de São Gregório Magno:

"Os magos tinham ouro, incenso e mirra: o primeiro, evidentemente, corresponde a um rei; o incenso é usado no sacrifício a Deus; a mirra, por fim, embalsama os corpos dos mortos.

Os Magos que adoram o Cristo também O proclamam com presentes místicos: que Ele é rei, com o ouro; que é Deus, com o incenso; e que é mortal, com a mirra...

Porém, no ouro, no incenso e na mirra, outras coisas se pode entender. O ouro, por exemplo, designa a sabedoria, que Salomão atesta quando diz: 'Desejável tesouro se encontra na boca do sábio' (Pr21, 20). Pelo incenso se exprime aquilo que a força da oração incendeia diante de Deus, como atesta o Salmista: 'Seja elevada diante de tua presença a minha oração como incenso' (Sl 140, 2). Na mirra, enfim, vai figurada a mortificação da nossa carne, de onde a Santa Igreja dizer de seus servidores fiéis, até a morte, que 'suas mãos destilaram mirra' (Ct 5, 5).”

Este mês nos propomos a discutir cada um desses presentes e seu uso na Saúde.

Ouro

Seu nome em latim é aurum, que é a raiz de palavras como: aura, aurora, auréola. É um metal de transição, situado na tabela periódica no grupo 11 (junto com cobre e prata), com símbolo Au; considerado um metal precioso, é maleável, amarelo e brilhante, facilmente manuseável, porém em estado puro é tão maleável que não se presta para a metalurgia e joalharia.

Seu emprego é conhecido desde a antiguidade, tanto como joias, como moedas.

No Egito antigo se empregou o ouro na odontologia – amarrando dentes postiços – e o ingerindo para aumentar as vibrações e purificar o corpo e a mente, na Roma antiga também foi usado o ouro para tratamento de úlceras de pela, como hoje em dia folhas de ouro são usadas nos tratamentos Estéticos de pele [2]

Por volta do século VIII a.E.C, na Frígia, atual Turquia, viveu o Rei Midas, que segundo a lenda recebeu do deus Dionísio (Baco para os romanos) a graça de escolher um desejo. Ganancioso, pediu para tudo que tocasse vira-se ouro. Passado a euforia de transformar qualquer objeto em riquezas, começou sua tortura, pois não conseguia comer nem beber, pois tudo se transmutava no metal precioso e, por fim, ao tocar em sua filha a transformou numa estátua do metal .

Desesperado clamou a Dionísio que o liberta-se do “dom”, que na verdade era um castigo por sua ganância; compadecido do seu sofrimento o deus o orientou para lavar os objetos tocados nas águas correntes do Rio Pactolo, desfazendo assim a transmutação e devolvendo a vida a sua filha.

No América Pré-Colombiana, no México, O deus patrono dos ourives era Xipe Tótec (nosso senhor dos desolados). Em náhuatl (a língua dos astecas) o ouro ou teocuítlatl, significa literalmente: excremento dos deuses. A presença deste dourado mineral se manifesta na mãe terra, pois os metais são extraídos da terra e, por tanto, dos deuses. Ele além de ser o deus dos ourives, era o deus da primavera, da renovação, da vegetação e da fertilidade[3].


Xipe Totec - reprodução do Codex Borbonicus.

Na época da conquista da América, surge a lenda do Eldourado, cuja origem remonta a 1531-1532, quando o conquistador Diego de Ordaz foi informado sobre a existência do País de Meta, que seria rico em ouro e pedras preciosas. Sua localização (entre o Peru e a Colômbia) foi influenciada pela cultura pré-colombiana Chibcha - também denominada de Muisca. Logo depois, em 1534, Luiz de Daza encontrou no Equador um índio chamado Muequetá (ou Muiziquitá), que se dirigia ao rei de Quito para solicitar ajuda na guerra contra os Chibcha. Ao descrever o seu país, referiu-se pela primeira vez ao cacique que se banhava com ouro em uma lagoa. Sebastião de Becalcázar (ou Benalcázar), o fundador de Quito, foi um dos iniciadores da busca ao mítico personagem. Para diferenciar este local de outras províncias espanholas, Becalcázar denominou-o de Província del Dorado em 1534. O primeiro relato impresso sobre o Eldorado foi de Gonçalo de Oviedo, em 1541 (História General y Natural de las Índias). Segundo esse cronista, um príncipe indígena diariamente se cobria com uma espécie de resina, sobre a qual era aplicado ouro em pó por toda a extensão de seu corpo (ALÉS & PUYLLAN, 1992, p. 287). Essa tradição, do homem dourado, advinda de informações indígenas, foi baseada em um culto religioso dos Chibcha (situados na Colômbia). Várias pesquisas arqueológicas atuais confirmam a autenticidade deste episódio, que desapareceu antes da conquista[4]


Arte Chibcha representando uma jangada e rei.

Na sua Matéria Médica Pura[5], Samuel Hahnemann, comenta:

“Assim como a superstição, as observações impróprias e as suposições crédulas têm sido a fonte de inúmeras virtudes corretivas falsamente atribuídas aos medicamentos na Materia Medica; da mesma forma, os médicos, por não terem recorrido ao teste do experimento e por suas teorias fúteis, negaram igualmente a possessão de qualquer poder medicinal a muitas substâncias que são muito poderosas e, conseqüentemente, de grande virtude curativa, e assim, eles nos privaram desses remédios.

Neste lugar falarei somente de ouro, e não deste metal alterado pelos processos químicos ordinários, conseqüentemente não dele dissolvido pela ação de ácidos, não percipitado de sua solução (ouro fulminante[6]), ambos os quais foram declarados como sendo , se não for inútil, então absolutamente nociva, aparentemente porque não podem ser tomadas sem conseqüências perigosas quando dadas no que se chama de justa dose, ou, em outras palavras, em quantidade excessiva.

Não! Eu falo de ouro puro não alterado por manipulações químicas.

Os médicos modernos declararam que isso é bastante inativo; acabaram por extirpá-lo de todas as suas Matérias Médicas, privando-nos assim de todas as suas poderosas virtudes curativas.

“É incapaz de solução em nossos sucos gástricos, portanto, deve ser bastante impotente e inútil." Esta foi a sua conclusão teórica, na arte médica, como é bem conhecido, tais ditames teóricos sempre aproveitaram mais do que provas convincentes. Porque eles não questionaram a experiência, o único guia possível na arte médica que é encontrado apenas na experiência; porque era mais fácil fazer meras asserções, portanto eles geralmente preferiam suposições teóricas vazias e máximas arbitrárias à verdade sólida...

Eles estavam todos errados, e assim são todos os médicos modernos.

O ouro era grande, poderes medicinais peculiares.

De início, me permiti ser dissuadido por esses negadores de esperarem propriedades medicinais em ouro puro; mas como não consegui me persuadir a considerar qualquer metal como destituído de poderes curativos, empreguei-o primeiro em solução. Daí os poucos sintomas da solução de ouro registrados abaixo. Eu então dei, nos casos em que os sintomas me guiaram para o emprego homeopático, o quintilhão ou sextilionésimo de um grão de ouro em solução para uma dose, e observei efeitos curativos um pouco semelhantes aos que experimentei depois de ouro puro.

Mas como, via de regra, não gosto, quando posso evitá-lo, de dar os metais dissolvidos em ácidos (quando não posso evitar fazê-lo, prefiro a solução deles em ácidos vegetais), e muito menos em ácidos minerais como isso diminui sua nobre simplicidade, pois eles certamente devem sofrer alguma alteração em suas propriedades quando atuados por esses ácidos - como devemos perceber em uma comparação dos efeitos curativos do sublime corrosivo com aqueles do óxido negro de mercúrio – eu fiquei encantado por encontrar um número de médicos árabes unanimemente testemunhando as potências medicinais do ouro em uma forma finamente pulverizada, particularmente em algumas condições mórbidas sérias, em algumas das quais a solução de ouro já tinha sido de grande utilidade para mim. Essa circunstância me inspirou com grande confiança nas afirmações dos árabes.

O primeiro traço disso nós encontramos no século VIII, quando GEBER (De Alchimia tradictio, Argent. Ap. Zetzner, 1698, lib. II, pág. III, cap. 32) ostenta o ouro como uma “materia laetificans et en juventute corpus consevans”.

No final do século X, SERAPION, o jovem (De Simplicibus Comment., Venet. Fol. Ap. Junt., 1550, cap. 415, p. 192), recomenda-o com estas palavras: o ouro em pó é útil na melancolia e fraqueza do coração ”.

Então, no começo do século XI, AVICENNA (Cânon., Lib. II, cap. 79) diz: “O ouro em pó é um dos remédios contra a melancolia, remove o fedor da respiração, é, mesmo quando administrado internamente, um remédio por cair do cabelo, fortalecer os olhos, é útil na dor do coração e na palpitação, e é incomumente útil na dispneia” (A palavra árabe para esses dois últimos significados; de acordo com a acentuação da palavra, significa“ tomar para si mesmo ", ou" dispnéia ". A experiência do poder curativo do ouro mostra que o último é o verdadeiro significado.)

ABULKASEM (ABULCASIS), no começo do século XII, é o primeiro a descrever (em Libro Servitoris de proep. Medorrhinum, p. 242) a preparação deste pó de ouro com estas palavras: - “O ouro é esfregado em um pó áspero. pano de linho em uma bacia cheia de água, e o pó fino que cai no fundo da água deve ser empregado para administração. ”JOHANN VON ST. AMAND (no século XIII) descreve o mesmo método de sua preparação (no Apêndice da MESUE, Opera, Venet., 1561, p. 245, 4 E.).

Esse modo de preparação foi imitado por ZACUTUS, o lusitano, e ele registra (Histor. Medic., Lib. I, obs. 333) a história do caso de um nobre que há muito tempo se preocupava com idéias melancólicas, a quem curava em um mês pelo uso exclusivo de um pó fino obtido esfregando ouro em uma pedra moída...

Não tentarei determinar se, neste pó fino, o ouro é apenas triturado menor, ou se por essa trituração energética ele se tornou, até certo ponto, oxidado. O suficiente para provar em alguns adultos saudáveis, 100 grãos desse pó (contendo um grão de ouro), e em outros, 200 grãos (contendo dois grãos de ouro), dissolvidos em água, bastavam para excitar grandes alterações na saúde. e sintomas mórbidos, que são registrados abaixo.

Destas se perceberá que as afirmações dos árabes não são sem fundamentos, como até mesmo pequenas doses deste metal dadas na forma mencionada causaram mesmo em adultos saudáveis ​​estados mórbidos muito similares àqueles curados (de maneira homeopática consciente) por aqueles orientais , que merecem crédito por sua descoberta de remédios.

Desde então curei rápida e permanentemente a melancolia que se assemelha à produzida pelo ouro muitas pessoas que tinham pensamentos sérios de cometer suicídio, por pequenas doses, que para todo o tratamento continham a partir de 3/100 dos 9/100 de um grão de ouro; e da mesma maneira eu curei várias outras afeições severas, parecidas com os sintomas causados pelo ouro. Não duvido que atenuações muito mais altas do pó e doses muito menores de ouro seriam suficientes para o mesmo propósito”.

Na Matéria Medica Chinesa o ouro em folha (金波Jīn Bō) é utilizado como substâncias que nutrem o coração e acalmam o Espírito, possui o sabor amargo e neutro de temperatura, atua principalmente no coração e pulmão.


Referências:

[1] O que significam o ouro, incenso e mirra? Disponível em: <https://padrepauloricardo.org/blog/o-que-significam-o-ouro-o-incenso-e-a-mirra>

[3] Baquedano, Elisabeth. EL ORO AZTECA Y SUS CONEXIONES CON EL PODER, LA FERTILIDAD AGRÍCOLA, LA GUERRA Y LA MUERTE. Disponível em:< http://revistas.unam.mx/index.php/ecn/article/viewFile/9304/8682>


[4] Langer, Johnni. O MITO DO ELDORADO: ORIGEM E SIGNIFICADO NO IMAGINÁRIO SUL-AMERICANO (SÉCULO XVI). Revista de História 136 (1997), 25-40. Disponível em: < http://www.periodicos.usp.br/revhistoria/article/view/18809/20872>


[5] https://hpathy.com/e-books/materia-medica-pura-samuel-hahnemann/aurum/


[6] O ouro precipita com NH4OH formando um precipitado explosivo.


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